terça-feira, 24 de maio de 2011

Uma heroína para o Cruzeiro do Sul


Marcélia mora há duas décadas no Cruzeiro. Foto: Fátima Diniz

Apesar de ser mulher e separada, conquistou seu próprio negócio. Vamos conhecer um pouco da história desta moradora do bairro Cruzeiro do Sul que, pela sua coragem, persistência e disposição, venceu barreiras e ganhou o respeito da comunidade.

Para chegar ao bairro, onde mora e trabalha a cabeleireira Marcélia, é preciso atravessar a cidade pela Avenida Rio Branco, que corta toda Juiz de Fora. São mais de cinco quilômetros em linha reta.

Localizado no alto da região Sul, suas ruas são estreitas. A subida, para quem segue a pé, é arriscada por causa das calçadas estreitas.

Como o bairro não é grande, foi fácil achar nossa personagem. Um telefone público perto da entrada é a referência, já que o salão de beleza não tem placa. E nem precisa. Quase todos ali conhecem Marcélia.

Encontramos uma mulher jovem e simpática. À nossa espera. Marcélia estava no batente logo cedo.

Marcélia faz análise política do bairro. Foto: Fátima Diniz

Separada e sem filhos, além de cabeleireira, é também manicure e depiladora. Mora com a mãe em uma das casas construída pela família no mesmo quarteirão. Em cima do salão, vive o irmão, casado e com filhos.

Começamos nossa conversa ali mesmo. Um lugar simples, com pouco espaço, porém limpo e organizado. Enquanto falava, Marcélia atendia a uma cliente que estava fazendo tratamento no cabelo. E já havia outra esperando. Sábado o movimento aumenta mesmo.

Nascida em Juiz de Fora, no bairro Santa Luzia, Marcélia conta que se mudou para o bairro Cruzeiro do Sul ainda pequena. Tinha 9 anos de idade. Na época, quase nada existia na região. Sua família foi uma das primeiras a chegar. Era década de 80, quando começava a nascer o bairro.

¨Quando eu era criança, só tinha a casa do pai e a do seu Roberto, a casa branca. Era tudo morro, sem nada. Não tinha ninguém para brincar. Ficava dentro de casa¨, conta.

Diz ainda que, hoje, tem muito mais crianças. Elas continuam sem lugar para o lazer, já que é impossível brincar pelas ruas estreitas e sem calçadas. Uma preocupação a mais para os pais, que precisam vigiar os pequenos o tempo todo.

Como Marcélia mora no local há mais de 25 anos, conhece tudo sobre o bairro e tem consciência dos problemas da comunidade. Relata que ali não tem escola, nem creche, nem praça. Também não tem posto policial. Apenas existem duas padarias e uma imobiliária. Para fazer compras, é preciso se deslocar para o bairro vizinho. Tem posto de saúde. Segundo moradores e a própria Marcélia, o atendimento é muito precário. Outra preocupação para ela são os Ônibus. Relata que eles passam em alta velocidade. As mães não têm sossego. ¨As crianças aqui não têm área de lazer. As mães ficam gritando: Olha o ônibus!! ¨desabafa.

E a violência?

¨ As duas padarias daqui já foram assaltadas. Mas não considero um bairro violento, não¨, pondera. Mas gostaria que tivesse segurança, já que não tem posto policial.

Acha que o lugar precisa de mais atenção dos órgãos públicos.

Ela é uma pessoa de bastante valor para a comunidade. Sabe dos problemas que o bairro tem e luta por melhorias.

Marcélia nunca se deixou abater pelos problemas que passou na vida. Superou vários obstáculos e, para ela, não existe ¨sexo frágil ¨. Trabalha por conta própria, batalha muito. Apaixonada pela profissão, revela que não gosta de sair de casa. Seu maior lazer? É trabalhar mesmo. Acredita que o trabalho ajuda a esquecer os problemas e tudo que já passou de ruim na vida.

Pergunto se ela te um sonho. ¨Tenho esperança de um mundo melhor, sem injustiças, sem falta de amor¨, responde.

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