Crianças continuam sem área de lazer. Fotos: Grazielle Soares
Brincar de pique-pega, se divertir no parquinho, ou jogar bola com os vizinhos são alguns dos sonhos de crianças do bairro Santa Efigênia. Um projeto para construção de quadra poliesportiva e praça foi apresentado a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) pela presidência do bairro. A intenção de alguns moradores e comerciantes é fechar uma das ruas centrais do bairro, a rua Antonio da Rocha Lima, que além de ser o ponto final do ônibus, situa o centro comercial formado por padaria, açougue, mercado, bares e lanchonetes.
No entanto, fechar uma das vias principais do bairro vai causar desconforto para o trânsito local e já está causando divergência de opiniões. “Acho que é uma boa ideia. Às vezes, as crianças ficam brincando na rua, deixam a bola cair no quintal dos vizinhos e eles reclamam disso”, explica a proprietária da mercearia, Maria de Lurdes Ferreira. A aposentada Maria Aparecida Gomes, também concorda e acrescenta que é perigoso para as crianças brincarem na rua pelo intenso fluxo de carros, caminhões e ônibus.
A moradora Maria Aparecida da Silva não concorda com o projeto. “Se eles construírem praça aqui neste local, vão fechar a via principal.” Para o proprietário de uma distribuidora de bebidas, Wellington Dias, a construção no centro do bairro deveria ser adaptada para carga e descarga. “O tráfego de carros e caminhões é favorável para a minha loja”, reforça. Enquanto para o dono do açougue ao lado, Ademilson Lima, o local seria ideal como espaço de lazer para a comunidade. “Valorizaria o bairro e poderia concentrar, ainda, um parquinho para as crianças e o posto médico que fica distante daqui.”
Mas, o incômodo pode ser maior para quem tem carro. “Eu não concordo, porque tenho entrada para garagem na minha casa”, ressalta. Questionada sobre uma área de diversão para seus filhos, ela afirma que eles só brincam na rua quando ela está por perto. A proprietária do restaurante, Aparecida Moreira, não concorda com a ideia do projeto, pois acha que o movimento poderia aumentar e prejudicar a segurança no bairro.
Córrego sujo no dia-a-dia das crianças. Fotos: Grazzielle Soares
As opiniões desencontradas podem ser um dos fatores que levaram a PJF a não investir na construção de uma praça com quadra em Santa Efigênia. Em 2010, as ruas do bairro foram asfaltadas através do Programa Rua Nova, o que favoreceu o trânsito no local. Enquanto isso, as crianças quando não estão na escola ou participando do Projeto Curumim realizado pela PJF. Elas brincam às margens de um córrego sujo, mal cheiroso e com risco de contaminação de doenças. Lucas Henrique, 10 anos, Vitor Venâncio, 10, Kelliene Samira, 13, entre outros, vivem essa realidade no bairro onde moram. “O córrego está desse jeito desde que eu nasci”, afirmou Emília, que se depara com o córrego nos fundos de sua casa há 50 anos. Ela explica que nunca viu obras para canalização do córrego. A situação está ainda pior, como mostram as imagens. A rua acima da casa de Emília desabou por causa das fortes chuvas do princípio deste ano e a PJF colocou um cano para desviar a água desta rua até o córrego.
Para a moradora Maria Oneida Alves de Oliveira, mãe de três filhos, com idades de 7, 9 e 13 anos, falta área de lazer mais próxima ao centro do bairro. A praça “Maria Eusébia Delfino” fica num cruzamento perigoso na junção dos bairros Santa Efigênia e Sagrado Coração de Jesus. “Lá o espaço é minúsculo. Está totalmente destruído e ainda por cima é muito longe”, desabafa.
A especialista em Educação Infantil, Rosa Imar da Silva, avalia que brincar é coisa séria. “A brincadeira para a criança é tão essencial, quanto o trabalho é para o adulto. O ato de brincar é o que a faz ativa, criativa e lhe dá subsídios para aprender a relacionar-se com o próximo.” Segundo ela, a falta de um lugar adequado para desenvolver a sociabilidade, afeta o relacionamento da criança em grupo, assim como, sua saúde física e emocional.
Ao invés de lazer, perigos constantes. Fotos: Grazielle Soares
Propostas do governo municipal
A PJF admite que o vandalismo em praças públicas seja um grave problema. O assunto foi tema de debate em janeiro deste ano na Câmara Municipal. O vereador Antônio Martins (Tico Tico) sugeriu a criação dos “Amigos da Praça”, que teriam sua estrutura base dentro de sua própria comunidade. O vereador Rodrigo Mattos questionou a falta de ação dos policiais militares e, propõe delegar a responsabilidade de coibir a ação de vândalos aos militares. O presidente da Câmara, Pastor Carlos Bonifácio, sugeriu a criação do “Zelador de Praças”, fazendo com que um cidadão atuasse na manutenção do local, ao invés de fazer reformas constantes.
A proposta da Sociedade Pró-Melhoramento de Santa Efigênia de fechar a rua Heitor Inácio, por enquanto, não é a melhor solução para os moradores, nem para o trânsito do bairro. De acordo com a Assessoria de Comunicação da PJF, a via é coletora, ou seja, responsável pela distribuição do tráfego. Isso o torna mais rápido, além de ser uma alternativa de acesso a outras zonas habitacionais do bairro.
Por Priscila Dianin e Grazielle Soares