terça-feira, 26 de abril de 2011

Aonde vamos brincar?

Crianças continuam sem área de lazer. Fotos: Grazielle Soares



Brincar de pique-pega, se divertir no parquinho, ou jogar bola com os vizinhos são alguns dos sonhos de crianças do bairro Santa Efigênia. Um projeto para construção de quadra poliesportiva e praça foi apresentado a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) pela presidência do bairro. A intenção de alguns moradores e comerciantes é fechar uma das ruas centrais do bairro, a rua Antonio da Rocha Lima, que além de ser o ponto final do ônibus, situa o centro comercial formado por padaria, açougue, mercado, bares e lanchonetes.

No entanto, fechar uma das vias principais do bairro vai causar desconforto para o trânsito local e já está causando divergência de opiniões. “Acho que é uma boa ideia. Às vezes, as crianças ficam brincando na rua, deixam a bola cair no quintal dos vizinhos e eles reclamam disso”, explica a proprietária da mercearia, Maria de Lurdes Ferreira. A aposentada Maria Aparecida Gomes, também concorda e acrescenta que é perigoso para as crianças brincarem na rua pelo intenso fluxo de carros, caminhões e ônibus.

A moradora Maria Aparecida da Silva não concorda com o projeto. “Se eles construírem praça aqui neste local, vão fechar a via principal.” Para o proprietário de uma distribuidora de bebidas, Wellington Dias, a construção no centro do bairro deveria ser adaptada para carga e descarga. “O tráfego de carros e caminhões é favorável para a minha loja”, reforça. Enquanto para o dono do açougue ao lado, Ademilson Lima, o local seria ideal como espaço de lazer para a comunidade. “Valorizaria o bairro e poderia concentrar, ainda, um parquinho para as crianças e o posto médico que fica distante daqui.”

Mas, o incômodo pode ser maior para quem tem carro. “Eu não concordo, porque tenho entrada para garagem na minha casa”, ressalta. Questionada sobre uma área de diversão para seus filhos, ela afirma que eles só brincam na rua quando ela está por perto. A proprietária do restaurante, Aparecida Moreira, não concorda com a ideia do projeto, pois acha que o movimento poderia aumentar e prejudicar a segurança no bairro.



Córrego sujo no dia-a-dia das crianças. Fotos: Grazzielle Soares


As opiniões desencontradas podem ser um dos fatores que levaram a PJF a não investir na construção de uma praça com quadra em Santa Efigênia. Em 2010, as ruas do bairro foram asfaltadas através do Programa Rua Nova, o que favoreceu o trânsito no local. Enquanto isso, as crianças quando não estão na escola ou participando do Projeto Curumim realizado pela PJF. Elas brincam às margens de um córrego sujo, mal cheiroso e com risco de contaminação de doenças. Lucas Henrique, 10 anos, Vitor Venâncio, 10, Kelliene Samira, 13, entre outros, vivem essa realidade no bairro onde moram. “O córrego está desse jeito desde que eu nasci”, afirmou Emília, que se depara com o córrego nos fundos de sua casa há 50 anos. Ela explica que nunca viu obras para canalização do córrego. A situação está ainda pior, como mostram as imagens. A rua acima da casa de Emília desabou por causa das fortes chuvas do princípio deste ano e a PJF colocou um cano para desviar a água desta rua até o córrego.

Para a moradora Maria Oneida Alves de Oliveira, mãe de três filhos, com idades de 7, 9 e 13 anos, falta área de lazer mais próxima ao centro do bairro. A praça “Maria Eusébia Delfino” fica num cruzamento perigoso na junção dos bairros Santa Efigênia e Sagrado Coração de Jesus. “Lá o espaço é minúsculo. Está totalmente destruído e ainda por cima é muito longe”, desabafa.

A especialista em Educação Infantil, Rosa Imar da Silva, avalia que brincar é coisa séria. “A brincadeira para a criança é tão essencial, quanto o trabalho é para o adulto. O ato de brincar é o que a faz ativa, criativa e lhe dá subsídios para aprender a relacionar-se com o próximo.” Segundo ela, a falta de um lugar adequado para desenvolver a sociabilidade, afeta o relacionamento da criança em grupo, assim como, sua saúde física e emocional.




Ao invés de lazer, perigos constantes. Fotos: Grazielle Soares


Propostas do governo municipal

A PJF admite que o vandalismo em praças públicas seja um grave problema. O assunto foi tema de debate em janeiro deste ano na Câmara Municipal. O vereador Antônio Martins (Tico Tico) sugeriu a criação dos “Amigos da Praça”, que teriam sua estrutura base dentro de sua própria comunidade. O vereador Rodrigo Mattos questionou a falta de ação dos policiais militares e, propõe delegar a responsabilidade de coibir a ação de vândalos aos militares. O presidente da Câmara, Pastor Carlos Bonifácio, sugeriu a criação do “Zelador de Praças”, fazendo com que um cidadão atuasse na manutenção do local, ao invés de fazer reformas constantes.

A proposta da Sociedade Pró-Melhoramento de Santa Efigênia de fechar a rua Heitor Inácio, por enquanto, não é a melhor solução para os moradores, nem para o trânsito do bairro. De acordo com a Assessoria de Comunicação da PJF, a via é coletora, ou seja, responsável pela distribuição do tráfego. Isso o torna mais rápido, além de ser uma alternativa de acesso a outras zonas habitacionais do bairro.








Por Priscila Dianin e Grazielle Soares

A enorme diferença que o bairro faz


Córregos esquecidos. Fotos: Dudu Mazzei







                                                   

Na NOVA JUIZ DE FORA o importante é gastar milhões para recapear os asfaltos, em sua maioria, na área central. É NOVA Santo Antônio, Independência, Getúlio, Olegário, Rio Branco, JK/Benfica entre outros. No entanto, quando se fala de bairros, o que vemos são propostas de reformas em apenas algumas ruas. As fotos de Dudu Mazzei revelam que há muito o que fazer nos bairros Santa Luzia e Santa Efigênia. Mas, para o planejamento de obras da Prefeitura, apenas 14 ruas serão recapiadas nestas duas áreas. Qual foi o critério de importancia para estas reformas? Entendo que esgoto sem tratamento a céu aberto, casas construídas em locais de risco, lixo jogado em calçadas e ruas sem calçamento são critérios relevantes para um projeto.
Obras de drenagem, novo asfalto, reurbanização e novo sistema de iluminação são realidades apenas para o centro, que sinceramente é considerado a menina dos olhos para a Prefeitura. Afinal, quanto mais pessoas vêem algo sendo feito, melhor para a imagem de quem governa. 


Descaso tradicional.  Foto: Dudu Mazzei
Mas o mais interessante é comparar os bairros da região sul de Juiz de Fora. Cascatinha e Estrela Sul fazem parte de áreas nobres da cidade e estão na rota verde ao lado do Independência Shopping, que é universo de butiques e madames. Ainda na zona sul estão os pobres bairros da rota laranja, apagados pela simplicidade e falta de estrutura. Fazendo um passeio entre Santa Efigênia, Santa Luzia, Estrela Sul até Centro encontramos parâmetros de vidas, consumo e realidade totalmente diferentes.
Com esta deixa, que passo a refletir o quanto esta cidade possuí discrepâncias. Dentro de um bairro pobre sai um bairro rico e pessoas dos dois lugares se encontram no centro, cada uma na sua posição. Nesse centro que encontramos as grandes obras do Programa NOVA JUIZ DE FORA, pretendendo remodelar a Praça do Riachuelo para retirar mendingos, vistos como ladrões e baderneiros. Ou colocando um alfalto novo em toda Independência, que não possuí um buraco sequer, em toda sua extensão. Neste caso, mais uma vez os moradores dos bairros pobres querem saber. O que sobra para nós?
Angeliza Lopes


Políticas não atingem cidadão comum. Foto: Dudu Mazzei

Em cada parada, sobem uns, descem outros

Samuel de Sá, carteiro, há 12 horas percorre o mesmo trajeto


Oito horas da manhã e densas nuvens pairam no céu. Por entre um grupo de senhoras, surge Samuel de Sá, mais um trabalhador brasileiro. Caminha apressado para o ponto de ônibus. Há 12 anos, percorre o mesmo trecho. Diariamente, transporta em suas mãos as notícias de parentes distantes para outros, simples cartas e até mesmo as infindáveis contas. Samuel é carteiro e conhece cada canto da cidade da Zona da Mata que, um dia, se firmou como a Manchester Mineira. E em cada parada; desce um. Sobem dois.
Sob o ritmo incessante e, por vezes, irregular do grande veículo, pela janela, ele vê a cidade passar. E quantos contrastes. Prédios, casas, lojas, tudo muda tão rápido. Assim como o tempo frio, o clima dentro do ônibus, por momentos, parece hóstil. O alumínio se mistura e se confunde com o ferro maciço que sustenta o coletivo. O barulho do motor é estridente. Conversar ali, quase uma missão impossível. E pelo vidro, um pouco embasado, o jovem carteiro, calado, fixa seus olhos no distante horizonte. E, em cada parada, descem dois. Sobem três.
Pelas estreitas ruas pavimentadas, o ônibus segue rumo ao seu destino. Casas. Prédios. Mercados e padarias. O movimento de transeuntes nas calçadas de cimento grosso aos poucos vai aumentando. Em meio àquele clima gélido, uma voz ecoa sem cessar. Todos que passam pela roleta, agora com ares de modernidade devido à bilhetagem eletrônica, recebem um cumprimento do antigo e, talvez extinto, cobrador. Sim, extinto; pois, hoje um cartão magnético. Amanhã...  deixa pra lá. E, sem se preocupar com este amanhã, o cobrador espalha sua simpatia. Confessou que já teve outras profissões. Foi vendedor ambulante, ou camelô, como alguns perferem chamar.  E, em cada parada, descem três. Sobem quatro.

Ex- vendedor e hoje carteiro, Samuel é um pedaço do Brasil
Samuel, o de Sá,  trabalhador brasileiro, segue calado, enquanto o cobrador não pára. Quanta animação! Dizem por aí, segundo os mitos da ciência popular, que mulher fala muito. Esse cobrador fala dobrado. E, do outro lado do vidro, as casas, algumas delas sem pintura, vão saindo de cena. Vão surgindo prédios cada vez mais altos. As ruas que estavam estreitas, vão se alargando. De repente, se transformam em duas pistas. Opa! Equívoco meu. Na verdade, são seis pistas. Uma multidão de carros, ônibus, motos, bicicletas e até uma... carroça!? Pois é, um carroça. Em meio aquele frenesi de automovéis, o carroceiro conduz tranquilo, como se os ponteiros do tempo estivessem parados. E novamente, em cada parada, descem quatro. Sobem cinco.   
               As calçadas que há dois minutos apresentavam-se sob o cimento cru e com buracos, agora se mostram, majestosamente, sob as pedras portuguesas que dominam todos os passeios da região comercial. Samuel olha, ainda, calado. Engraçado! O senhor simpatia da roleta, também se cala. Agora – sério - confere o dinheiro e em silêncio ajuda uma senhora com uma bolsa a transpor a barreira eletrônica. Samuel desce e, como num passe de mágica, some no meio da onda humana que, cotidianamente, invade as ruas centrais. E o veículo contínua a sua viagem. Pois, em cada parada, descem cinco. Sobem seis.

Linhas de ônibus contam histórias sobre uma Juiz de Fora real

Prédios, casas, prédios, lojas, prédios... e, novamente, prédios. A selva de concretos e altos arranha-céus parece não acabar. Ali, todos moram uns sobre os outros. Colados uns ao lado dos outros. Mas poucos se conhecem. Mal se cumprimentam dentro de uma caixa metálica que sobe e desce. Talvez, queiram ficar próximos dos lugares onde tudo acontece. Verdade. Antagonismo urbano. Fazer o quê? As pessoas já se acostumaram com esse filme que se repete de quatro em quatro anos. Creio que se acomodaram. Mudar pra quê? É mais fácil assim. Bem mais fácil. Última parada, descem seis. Não sobe ninguém.

   
 Wellerson Cassimiro de Oliveira
  

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Uma viagem de ônibus

Uma linha, quatro carros e 500 passageiros em media circulam pelo bairro Centenário em Juiz de Fora. Quem atende à região é a empresa Viação Santa Luzia Ltda instalada há 60 anos na cidade.

Ao longo de uma viagem entre Centenário e Santa Efigênia, pude conhecer Rodrigo Otávio Barros de Oliveira. Um dos trocadores da linha 145.

19h55min – Hoje são 24 de fevereiro de 2011.

No ponto três moradores dão sinal para o coletivo 145 que serve o bairro Centenário. Eles estão no ponto final do bairro e desejam ir para o centro da cidade.

Dentro do coletivo está Rodrigo que há mais de 790 dias circula pela linha. Ele conhece muitos moradores, cumprimenta e é cumprimentado. Pelo itinerário, o carro possui 45 minutos para percorrer do Centenário até o ponto final de Santa Efigênia, mas hoje ele está atrasado e a viagem terá de ser feita em 25 minutos.“Eu sou Técnico em Contabilidade, mas a empresa em que trabalhava fechou e fui buscar uma recolocação no mercado, consegui esta oportunidade e não pensei duas vezes” conta Rodrigo. O coletivo sai do bairro Centenário e muda sua rota.. A viagem agora segue para o Santa Efigênia.

Pai, marido e profissional. Pela manhã Rodrigo cuida do filho de 5 anos enquanto a mulher trabalha. À tarde, ele leva o filho para a escola e usa o tempo livre para se organizar e realizar as atividades necessárias.

Restam 15minuitos até Santa Efigênia.


“O horário da noite é mais tranqüilo. Graças a Deus posso afirmar que nunca aconteceu nenhum contratempo conosco, estou a dois anos nesta linha e sempre tivemos viagens tranqüilas” diz. A lotação segue viagem com quatro passageiros começando o seu trajeto na Av. Rio Branco.
O horário de trabalho de um trocador pode ser comparado com o de mercado, com 8h diárias. Rodrigo trabalha das 16h30min até 00h12min. No total são 7h e 42 minutos, 10 viagens por dia e pausas de 10 a 20 minutos. “Este carro nós pegamos atrasado” afirma Rodrigo. Para poupar tempo eles não param nos pontos finais. Tentam corrigir o atraso evitando o constragimento com os passageiros, que a essa hora estão tentando voltar para casa. Apesar dos itinerários serem estabelecidos, eles não levam em conta os engarrafamentos, acidentes e transtornos das vias juiz-foranas.

Faltam 08 minutos para o ponto final

“As duplas (motorista e trocador), e as rotas que fazemos são fixas. O motorista que trabalhava comigo tirou de licença e Márcio está há dois meses nesta rota” explica o trocador. Segundo ele, o ponto vantajoso é que normalmente se tem uma boa relação com o motorista, o que proporciona confiança no colega de trabalho. Desta forma, nos bairros, eles passam a ser conhecidos pelos moradores que os cumprimentam e tornam a viagem mais agradável.

Para os funcionários, a empresa tem um programa de prevenção que realiza consultas medicas periódicas. Só não existem políticas de ginástica laboral nem de alongamentos para evitar problemas de coluna e dores no corpo, assim muitos acabam sendo afastados para realizarem tratamentos como o ex-motorista que acompanhava  Rodrigo.

Falta 1 minuto para o ponto final

 “Estamos entrando em Santa Luzia, o atraso deve ser de uns sete minutos, pois já deveríamos estar chegando ao ponto final, lá em Santa Efigênia”.

Como melhoria para a categoria Rodrigo ressalta um aumento no salário, pois, apesar de receber cesta básica e auxílio alimentação, acredita que o reconhecimento dos profissionais na cidade poderia ser maior. “Para sustentar a casa, eu e minha esposa trabalhamos, é assim que tem que ser. Com o meu salário não posso manter sozinho” conta Rodrigo.

Atrasado 0h12min – (agora são 20h42min – chegada ao ponto final)

“Estamos atrasados, mas desde as quatro horas que a gente não faz paradas. A fome aperta e também precisamos ir ao banheiro”. A pausa é no ponto final de Santa Efigênia. Apesar do atraso eles param para comer. O lanche é reforçado, pão, bife, ovo e salada, com direito a refrigerante e uma ida ao banheiro. Tudo sem demora, o próximo ponto final tem que ser feito em 33 minuto.s “Temos que comer rápido pois a pausa só aumenta o atraso” afirma.

O carro parte do ponto final em Santa Efigênia às 21h00. O objetivo é sair do bairro, chegar à Avenida Rio Branco atravessar 4 km e fazer o ponto final do Centenário em 15min. O carro está atrasado, mas eles não podem desanimar, sabem que não terão mais paradas para lanche. Beber água e ir ao banheiro só em casos de necessidade. A rotina dura até as 00h12min.

Se pudesse melhorar alguma coisa no seu trabalho, Rodrigo aumentaria o salário. A segurança está melhorando e agora todos os ônibus dispõem de sistema de câmeras de vigilância. A jornada é tranqüila e ele pode conciliar com a família. O atual trocador não pretende ficar muito tempo neste cargo, mas também não almeja ser motorista. “Quero exercer o meu curso e trabalhar na parte administrativa da empresa, só estou aguardando uma oportunidade de ser chamado” afirma entusiasmado.

A viagem de volta ao Centenário segue tranqüila, o carro possui 14 passageiros dentre homens, mulheres, velhos e crianças. Rodrigo segue cumprimentando a todos que conhece e aqueles que também o cumprimenta. Sentado no banco do ônibus Centenário ele tira o sustento e todos os dias até 00h12 é encontrado como trocador da linha 145.

Ulisses Lenz

Bairro Centenário – Pavimentação e Trânsito

Motoristas lutam contra pavimentação
Foto: Tatiana Yasbeck

Nossa caminhada começou pela Rua Sílvio Romero, onde entrevistamos o Sr. Antônio Manoel. O senhor Antônio, antigo morador do bairro, falou sobre as condições do asfalto, que segundo ele é “velho” e desgastado. O morador relata que a pavimentação completa do bairro foi feita há mais ou menos 30 anos e que a partir daí só se vê “operação tapa buracos”, que de nada servem, pois qualquer chuva faz com que os buracos e desnivelamentos retornem. Ele alertou também para o fato de as ruas, estreitas em sua maioria, serem de mão dupla, com carros estacionados, algumas vezes dos dois lados, e com tráfego de ônibus, o que representa perigo para quem transita por lá.
Seguimos então pela Rua São Domingos Sávio, fotografando e filmando o asfalto e a movimentação de carros e ônibus do local. Em toda extensão do Bairro Centenário percebe-se um asfalto antigo, mais fino em vários trechos e cheio de “remendos”.
O bairro possui também alguns cruzamentos que precisariam claramente de rotatórias ou de uma melhor sinalização. Percebemos durante nossa permanência por lá, que só o bom senso dos motoristas evita acidentes, o que, segundo apuramos, nem sempre é possível.
Chegando ao topo do bairro, em frente à Igreja de São Cristóvão, entrevistamos o morador Jair Macedo – ver vídeo – e o Presidente da Associação de Moradores, Sr. André Lino Bonifácio de Andrade e Silva, que nos mostrou um Ofício, datado de 30 de novembro de 2010, enviado ao Prefeito Custódio Mattos, - Entregaremos cópia do Ofício juntamente com o material de vídeo e fotos – onde a Associação de Moradores faz diversas reivindicações à PJF.
Finalmente, fizemos contato com a EMPAV, através da estagiária de assessora de imprensa, Mariana e não recebemos nenhuma resposta até o presente momento.
Nosso trabalho trará, além do presente relato, farto material de fotos e vídeos que fizemos durante nossa visita ao bairro Centenário.

Buracos são cenário comum no bairro.
Foto: Tatiana Yasbeck


Descaso total

A imaginação é algo totalmente livre e faz com que o ser humano pense da maneira que seja confortável. Agora imagine um mundo sem diferenças econômicas, sociais, sem nenhum tipo de preconceito e com toda a população tendo os mesmo direitos e deveres. Pois bem, hoje se olharmos para o lado, veremos que nada do que pensamos é realizado. O mundo tem suas diferenças e cada vez mais mascaramos muitas delas. Nossos governantes que estão no poder porque nos os elegemos como tais, não realizam nenhuma tarefa a fim de igualar todas as disparidades que acontecem no dia a dia.

Nova Juiz de Fora não atinge população marginal.
Foto: Leiliane Gonçalves

Temos exemplo em nossa região. Juiz de Fora não é uma cidade modelo de irmandade e de acolhimento. Mas os últimos acontecimentos fazem com que nós pensemos muito bem em quem e como votar.  O projeto “Nova Juiz de Fora” só aumentou essa distância entre a “população pagante” e “a realidade dos becos”. O que quero dizer é que nos grandes centros e avenidas da cidade, foi realizado um asfaltamento de primeira. Não que isso seja ruim, acontece que o atual prefeito foi eleito não só para revitalizar os asfaltos nas ruas centrais, mais com a responsabilidade de também corrigir alguns defeitos em todos os bairros da região, desafogar o trânsito na cidade que está caótico, realizar projetos para que a população perceba que a cidade é feita para todos.

A Batalha Regional contra a Dengue que envolveu equipes de todas as áreas da prefeitura não foi eficiente pois a situação só chegou nesse nível absurdo de casos na cidade, porque a administração deu as costas para a realidade. O povo não cuida de matos altos, não vê água parada, não olha se tem recipientes que acumulam água simplesmente porque não vê suporte, não enxerga vontade das autoridades para que outros problemas se resolvam.

Mas tudo tem uma solução, se a população começar a enxergar que nesse jogo quem manda e quem tira somos nós mesmos tudo pode mudar. Porque não fazemos operação tartaruga na hora de pagar os impostos? Toda ação gera uma reação, portanto não nos portemos mais como povo, mais sim como uma nação que quer direitos e deveres sendo respeitados, sem diferenças econômicas, sociais, sem nenhum tipo de preconceito. E que possamos não só imaginar, mas sim encarar a realidade e botar em prática tudo aquilo que esperamos que outros façam por nós.

Rodrigo Lopes

Limpeza precária no bairro Centenário

O bairro Centenário é localizado na zona nordeste de Juiz de fora, entre os bairros Manoel Honório e Santa Terezinha. Antigamente era conhecido como “Grota dos macacos”, pois segundo relatos de antigos moradores havia uma concentração de macacos no local.Os primeiros habitantes adquiriram lotes da antiga fazenda de José Maria Mendes, em meados da década de 40 e impulsionaram o progresso do lugar. Construíram a rede de esgoto, abriram ruas e se mobilizaram, pressionando a Prefeitura a instalar energia elétrica e canalização da água. Em 1950, ano em que Juiz de Fora completou 100 anos, o bairro homenageou o aniversário da cidade mudando seu nome para Centenário. A primeira conquista da população foi à regularização do abastecimento de água e do asfalto.
Atualmente, o bairro se encontra em estado de alerta. Os moradores andam reclamando do descaso da atual administração da Prefeitura em não atender as suas solicitações. Além da falta de posto de saúde e praça publica, as ruas do Centenário estão praticamente tomadas pelo mato. Segundo o presidente do bairro, André Lino Bonifácio de Andrade e Silva, a capina completa não é feita há mais de um ano. Os matos foram roçados - mas não foram recolhidos. Somente nas ruas centrais, Antonio Celeste e Vitório Sagioro, os serviços de capina, roçagem e recolhimento são feitos pelo Demlurb.
                      A falta de capina está causando vários problemas para os moradores. Eles reclamam constantemente do surgimento de ratos, baratas e escorpiões que invadem suas residências. Ainda há o perigo da proliferação do mosquito da dengue. Sandra Maria dos Santos, residente da rua Vitório Sagioro, diz que ela mesma já fez a capina em frente à sua casa. Na ocasião, o mato estava muito alto, impedindo a passagem do escadão, que se tornou um local de difícil acesso. A moradora ainda ressalta que é comum a vizinhança se reunir em mutirões para fazer a limpeza das ruas. Como sinal de revolta, queimam o mato, já que o órgão da Prefeitura não faz sua parte. Também informa que um ofício já foi encaminhado pela Associação do Bairro para as autoridades do município, mas que até o atual momento não foi respondido.
                      Procurada pela nossa equipe, a Assessoria de Comunicação do Demlurb informou que a capina foi feita em todo o bairro no ano de 2010. No entanto, em 2011 ela ainda não foi realizada pela falta de funcionários, pois a empresa terceirizada responsável não presta mais este serviço. Indagados sobre a identidade da empresa, eles disseram que não poderiam passar essa informação. Segundo a assessoria, quem cuida desse assunto é a Secretária de Recursos Humanos da Prefeitura. Até o fechamento dessa matéria, nenhum responsável foi encontrado para prestar informações. O Demlurb também ressaltou que a capina já está sendo feita. A prioridade, no entanto, é para os bairros que não foram atendidos em 2010. Com todas essas informações os moradores do Centenário aguardam ansiosos pelo cumprimento de suas solicitações.
                     
Histórico de problemas no bairro

Os problemas do bairro Centenário começaram antes mesmo dele ser loteado. Nos anos 50, já havia muito mato e nenhum tipo de infra-estrutura. Em 1997 os moradores se queixavam da falta de asfalto, das ruas estreitas e do barranco que cedeu na rua Lívio Mota. No ano de 2004, a população reclamava da falta de área de lazer e de asfaltamento nas ruas B, C, Tupi e João Lourenço. Atualmente, além do problema da capina nas ruas, o bairro ainda não possui área de lazer, posto de saúde e também sofre com escassez de transporte urbano.

                     Nathane Paiva

                    

Retratos de uma vida


O nome Efigênia é uma variação do grego Ifigênia, cujo significado é pessoa vigorosa. No catolicismo, tornou-se santa uma princesa africana batizada pelo mesmo nome, bastante popular por sua generosidade e crença em Deus. Repleta de generosidade, força, e fé inabalável, encontra-se Dona Maria José Ferreira, 78 anos, moradora de Santa Efigênia, bairro da zona sul de Juiz de Fora. Habitante mais antiga do local, Dona Maria chegou em Santa Efigênia há 54 anos, quando as primeiras casas eram construídas e os habitantes conviviam com a ausência de calçamento, água encanada e energia elétrica.
Para driblar as dificuldades da época, era preciso improvisar e Dona Maria soube fazer isso com eficiência. Ao lado do falecido marido, José Ferreira, ajudou a vizinhança por um tempo, levando até eles água de um poço próximo à comunidade, através da carroça do Seu José. Parte dessa água era usada para lavar as roupas dos clientes da cidade. Trabalhou como lavadeira por três décadas, ajudando no sustento da família. “Hoje em dia tem máquina de lavar. Antigamente, nós, lavadeiras, é que lavávamos roupa para o pessoal da cidade. Eu ia até o centro todo dia e voltava com uma trouxa de roupas na cabeça. Depois de limpas, passava tudo com ferro à brasa, pois não tinha luz elétrica”, relembra Dona Maria.
Foi ela também quem lutou para asfaltarem a Rua José Joaquim, aonde mora desde os 24 anos de idade. Em companhia de um grupo de 15 vizinhos e um abaixo assinado com nomes de outros tantos, a simpática senhora foi até a prefeitura solicitar a pavimentação da rua. Em poucos dias o problema estava solucionado, embora o processo não tenha sido tão rápido quanto parece. O grupo foi ignorado muitas vezes até conseguir apoio político para realização da obra.  “Fomos brigar porque a rua era coberta por mato. Os moradores tinham que capinar esse matagal todo dia, pois nem capina o governo disponibilizava.”, defende-se. Segundo ela, o mato em grande proporção estava servindo de abrigo para diversos caramujos africanos, espécie de molusco que libera uma secreção capaz de transmitir meningite e causar cegueira no contaminado.
Essa não foi a primeira vez que Dona Maria correu atrás de melhorias para a população de Santa Efigênia. Durante três anos, ela exerceu a função de líder comunitária como vice, e depois presidente da extinta Sociedade Melhoramento do Bairro. Na sede da associação, ouvia sugestões e críticas dos moradores, e se encarregava de planejar ações de benfeitoria para a comunidade. Faz parte até hoje da Conferência de São Vicente do bairro.  No papel de vicentina, ajuda famílias locais que passam por necessidades, distribuindo todo mês uma cesta básica para cada família. “A gente passa nas casas pedindo ajuda, qualquer colaboração é de bom tamanho. Também faço alguns bordados para arrecadar dinheiro para essas pessoas que estão desempregadas e se vêem sem alternativas”, explica a generosa senhora.

Marcada pela fé

Muito religiosa, Dona Maria sempre se engajou nos eventos sociais da Igreja Católica de Santa Efigênia, e organiza romarias duas vezes ao ano. Entre os locais de destino estão Aparecida do Norte-SP, e algumas cidades do interior de Minas Gerais.  Foi também, por anos, presidente do Apostolado da oração do bairro, mas teve que se afastar do grupo devido à indisponibilidade de tempo. Desde que passou a tomar conta do bar da filha Neuza, há 12 anos, os dias passaram a ser mais curtos e as antigas atividades ficaram em segundo plano. Entre essas atividades estava o Clube de mães, o qual criou junto a cinco amigas da igreja. Essas mulheres se reuniam toda semana para produzir peças de artesanato que eram vendidas nos bazares realizados em frente à igreja.
 Há 15 anos, as mulheres do Clube de mães não se reúnem, desde que Dona Maria sofreu um acidente que a debilitou. Caiu, enquanto descia a ladeira da rua onde mora a caminho de casa. Passou cinco meses em casa, enclausurada, com a perna engessada. Foram mais dois meses andando de muletas, com dificuldades para se locomover. Com isso, afastou-se de todos e foi forçada a parar de lavar roupa. Consumida pela tristeza, chegou a escrever uma carta para as amigas, desculpando-se pela ausência. Mas essas pessoas entendiam a situação da amiga e a apoiavam da maneira que podiam, seja animando-a com visitas, seja dando uma carona até à igreja.
 A senhora do olhar doce sabe bem o que é sentir o sabor amargo do sofrimento. Enterrou dois dos três filhos a quem deu à luz. Um menino de cinco meses, morto por pneumonia; e uma menina de seis anos que, ainda bebê, teve uma paralisia que, anos depois, lhe tirou a vida. O marido, José Ferreira, morreu há 30 anos por complicações na próstata. As perdas a desolaram por um tempo, mas ajudaram a esculpir a forte mulher que se tornou.  A saudade escapa entre seus olhos sinceros quando toco no assunto delicado. Mas rapidamente expressões faciais que indicam timidez e simpatia voltam a iluminar seu rosto, enquanto muda o rumo da conversa.
 Lar, doce lar.

Atualmente Dona Maria divide o teto da casa onde mora com a filha Neuza Eni, o genro Gilberto e o neto, Fábio. Esse último, aliás, é o xodó da avó.  Logo na entrada do bar da família, duas prateleiras exibem os troféus do time de futebol treinado por Fábio, campeão de diversas partidas disputadas entre os moradores do bairro. Um caminho de mesa com o escudo do flamengo bordado cobre o móvel, perto do qual estamos sentadas, conversando. O relógio de parede, também do time, me desperta a curiosidade: ”Gosta de futebol?”, pergunto. A moradora mais antiga de Santa Efigênia balança, então, a cabeça, fazendo sinal negativo, estampa um tímido sorriso no rosto e responde: “É do meu neto, flamenguista. Ele também joga futebol muito bem”, revela cheia de orgulho.
Figura conhecida no bairro, a moradora tem o respeito e admiração da vizinhança. “Ela é uma pessoa maravilhosa, muito generosa, e excelente catequista. Minha filha, que atualmente está com 27 anos, foi catequizada por Dona Maria há anos e até hoje pede conselhos a ela. Temos grande carinho por ela.”, relata a amiga e ex-colega do Clube de mães, Marli Elerati, 63 anos. Ao falar com Dona Maria entendo a razão de tantos comentários positivos a seu respeito. Os minutos voam enquanto me encanto, ouvindo os relatos daquela senhora. Difícil não se deixar encantar. E assim as histórias de Santa Efigênia e Dona Maria Ferreira se misturam, escrevendo linhas de conquistas, luta, simplicidade, e do verdadeiro sentido da palavra comunidade.
Marília Xisto














Um problema a céu aberto


Na área da saúde pública existem mais de 100 doenças que podem ser evitadas com investimentos em saneamento básico, entre elas cólera, amebíase, diarréia, peste bubônica, lepra, meningite, pólio, sarampo, hepatite, febre amarela e etc. Com isso, conforme dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), os custos dos tratamentos variam, em média, desde R$ 3,16 (rubéola e sarampo) até R$ 154,03 (Leishmaniose). Com isso, o sistema público de saúde fica carregado desnecessariamente, visto que muitas enfermidades poderiam ser evitadas com investimentos na área.
Através desses dados, é possível perceber que por meio de investimentos em saneamento básico, uma gama de doenças poderiam ser evitadas, trabalhando questões de distribuição de água de qualidade e captação de esgoto. Nesse contexto, que Juiz de Fora se encaixa. Não por investimentos, mais sim pela falta. Sendo mais específico, no caso, do bairro Santa Efigênia que sofre com as precárias condições referentes ao córrego que corta o mesmo.
Conforme, o Vice-Presidente do bairro, Cristiano da Silva Pereira, o córrego, que trás uma série de problemas, começa no bairro Sagrado Coração passa por mais dois locais, esses Ipiranga e Santa Luzia. Os problemas envolvem exposição a céu aberto, criadouro de animais que transmitem doenças, falta de canalização para captação de esgoto e, o pior, crianças brincam perto ao local. “Outro ponto também, é que as muitas crianças brincam em volta das margens. Por falta de isolamento da área, é comum vê-las pulando dentro do córrego atrás de brinquedos ou até mesmo por diversão. No caso, essas ficam ainda mais expostas a uma série de doenças.”, declara Cristiano.
Ainda existem dois problemas que dizem respeito ao estado que se encontra o local. Entre eles, a via de água, passa em frente a duas escolas, essas Seminário Ave Maria e Escola Brincando de Aprender. Também um problema de vazão das águas da chuva. Uma vez que as casas construídas em volta do córrego não deixam o próprio escoar o volume de água, causando enchentes.
Para o morador Elias Rodrigo de Arruda, no caso uma série de questões estão interligadas. “O descaso por parte da Prefeitura pelas pendências do bairro e também a falta de conscientização por parte da população, liga um problema ao outro. Se os órgãos competentes não desenvolvem as ações corretas e as pessoas por sua vez poluem, ainda mais, o córrego nunca nenhum problema será resolvido”, explica.   
De acordo com a Assessoria de Comunicação da Cesama atualmente, há uma equipe do órgão realizando a limpeza do leito e das margens do córrego do bairro Santa Efigênia.
Conforme a Assessora de Comunicação da Cesama, Thais Oliveira com relação a projetos, a Cesama já concluiu o projeto de implantação de coletores ao longo dos córregos daquela região. Numa primeira etapa, um coletor de esgoto será implantado ao longo das margens do córrego de Santa Luzia. Na segunda etapa, haverá implantação de coletores ao longo dos córregos afluentes, o que inclui o curso d'água do bairro Santa Efigênia. “Estes coletores receberão o esgoto daquela região e encaminhará o efluente para uma estação de tratamento futuramente. No caso, a Prefeitura está pleiteando recursos financeiros para iniciar a execução da obra”, explica.
Em nota, foi feito o contato com a Secretaria de Atividades Urbanas e a Secretaria de Obras, da Prefeitura de Juiz de Fora, a cerca do assunto. Porém, através de suas assessorias, informaram que as questões estão ligadas diretamente ao Cesama e essa, não divulgou as datas das ações ligadas às questões.


Leonardo Pelicarto Gonçalves