sexta-feira, 8 de abril de 2011

Uma viagem de ônibus

Uma linha, quatro carros e 500 passageiros em media circulam pelo bairro Centenário em Juiz de Fora. Quem atende à região é a empresa Viação Santa Luzia Ltda instalada há 60 anos na cidade.

Ao longo de uma viagem entre Centenário e Santa Efigênia, pude conhecer Rodrigo Otávio Barros de Oliveira. Um dos trocadores da linha 145.

19h55min – Hoje são 24 de fevereiro de 2011.

No ponto três moradores dão sinal para o coletivo 145 que serve o bairro Centenário. Eles estão no ponto final do bairro e desejam ir para o centro da cidade.

Dentro do coletivo está Rodrigo que há mais de 790 dias circula pela linha. Ele conhece muitos moradores, cumprimenta e é cumprimentado. Pelo itinerário, o carro possui 45 minutos para percorrer do Centenário até o ponto final de Santa Efigênia, mas hoje ele está atrasado e a viagem terá de ser feita em 25 minutos.“Eu sou Técnico em Contabilidade, mas a empresa em que trabalhava fechou e fui buscar uma recolocação no mercado, consegui esta oportunidade e não pensei duas vezes” conta Rodrigo. O coletivo sai do bairro Centenário e muda sua rota.. A viagem agora segue para o Santa Efigênia.

Pai, marido e profissional. Pela manhã Rodrigo cuida do filho de 5 anos enquanto a mulher trabalha. À tarde, ele leva o filho para a escola e usa o tempo livre para se organizar e realizar as atividades necessárias.

Restam 15minuitos até Santa Efigênia.


“O horário da noite é mais tranqüilo. Graças a Deus posso afirmar que nunca aconteceu nenhum contratempo conosco, estou a dois anos nesta linha e sempre tivemos viagens tranqüilas” diz. A lotação segue viagem com quatro passageiros começando o seu trajeto na Av. Rio Branco.
O horário de trabalho de um trocador pode ser comparado com o de mercado, com 8h diárias. Rodrigo trabalha das 16h30min até 00h12min. No total são 7h e 42 minutos, 10 viagens por dia e pausas de 10 a 20 minutos. “Este carro nós pegamos atrasado” afirma Rodrigo. Para poupar tempo eles não param nos pontos finais. Tentam corrigir o atraso evitando o constragimento com os passageiros, que a essa hora estão tentando voltar para casa. Apesar dos itinerários serem estabelecidos, eles não levam em conta os engarrafamentos, acidentes e transtornos das vias juiz-foranas.

Faltam 08 minutos para o ponto final

“As duplas (motorista e trocador), e as rotas que fazemos são fixas. O motorista que trabalhava comigo tirou de licença e Márcio está há dois meses nesta rota” explica o trocador. Segundo ele, o ponto vantajoso é que normalmente se tem uma boa relação com o motorista, o que proporciona confiança no colega de trabalho. Desta forma, nos bairros, eles passam a ser conhecidos pelos moradores que os cumprimentam e tornam a viagem mais agradável.

Para os funcionários, a empresa tem um programa de prevenção que realiza consultas medicas periódicas. Só não existem políticas de ginástica laboral nem de alongamentos para evitar problemas de coluna e dores no corpo, assim muitos acabam sendo afastados para realizarem tratamentos como o ex-motorista que acompanhava  Rodrigo.

Falta 1 minuto para o ponto final

 “Estamos entrando em Santa Luzia, o atraso deve ser de uns sete minutos, pois já deveríamos estar chegando ao ponto final, lá em Santa Efigênia”.

Como melhoria para a categoria Rodrigo ressalta um aumento no salário, pois, apesar de receber cesta básica e auxílio alimentação, acredita que o reconhecimento dos profissionais na cidade poderia ser maior. “Para sustentar a casa, eu e minha esposa trabalhamos, é assim que tem que ser. Com o meu salário não posso manter sozinho” conta Rodrigo.

Atrasado 0h12min – (agora são 20h42min – chegada ao ponto final)

“Estamos atrasados, mas desde as quatro horas que a gente não faz paradas. A fome aperta e também precisamos ir ao banheiro”. A pausa é no ponto final de Santa Efigênia. Apesar do atraso eles param para comer. O lanche é reforçado, pão, bife, ovo e salada, com direito a refrigerante e uma ida ao banheiro. Tudo sem demora, o próximo ponto final tem que ser feito em 33 minuto.s “Temos que comer rápido pois a pausa só aumenta o atraso” afirma.

O carro parte do ponto final em Santa Efigênia às 21h00. O objetivo é sair do bairro, chegar à Avenida Rio Branco atravessar 4 km e fazer o ponto final do Centenário em 15min. O carro está atrasado, mas eles não podem desanimar, sabem que não terão mais paradas para lanche. Beber água e ir ao banheiro só em casos de necessidade. A rotina dura até as 00h12min.

Se pudesse melhorar alguma coisa no seu trabalho, Rodrigo aumentaria o salário. A segurança está melhorando e agora todos os ônibus dispõem de sistema de câmeras de vigilância. A jornada é tranqüila e ele pode conciliar com a família. O atual trocador não pretende ficar muito tempo neste cargo, mas também não almeja ser motorista. “Quero exercer o meu curso e trabalhar na parte administrativa da empresa, só estou aguardando uma oportunidade de ser chamado” afirma entusiasmado.

A viagem de volta ao Centenário segue tranqüila, o carro possui 14 passageiros dentre homens, mulheres, velhos e crianças. Rodrigo segue cumprimentando a todos que conhece e aqueles que também o cumprimenta. Sentado no banco do ônibus Centenário ele tira o sustento e todos os dias até 00h12 é encontrado como trocador da linha 145.

Ulisses Lenz

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